terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Classificadas como Monumento de Interesse Público duas unidades industriais históricas do Concelho do Seixal


Portaria n.º 740-BG/2012
A Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços laborou cerca de 106 anos, entre 1895 e 2001. O seu período mais importante iniciou-se em 1898, com a criação da Companhia Africana de Pólvora, que se especializou no fabrico de pólvora negra destinada ao mercado de Angola. A planta fabril, fixada numa extensa área, organiza de modo racional as diversas oficinas — secções que distam entre si cerca de 50 m, de acordo com a sequência das várias operações e com as regras de segurança, conferindo ao conjunto algumas particularidades paisagísticas associadas à cortina arborizada envolvente.
O processo de fabrico define naturalmente o circuito da pólvora negra, cujo funcionamento dependia de um motor a vapor instalado numa central que formava o núcleo do recinto fabril. Esta central energética, constituída pela casa da bomba, casa das caldeiras e por uma máquina a vapor da casa Farcot, datada de 1900, forneceu a energia ao circuito fabril até ao seu encerramento. A energia mecânica produzida nesta central era distribuída por um sistema de transmissões aéreas que percorre todo o circuito, acentuando a singularidade técnico-funcional e plástica desta indústria oitocentista.
Mantendo praticamente inalterados, até ao seu encerramento, a planta fabril, o processo de fabrico, o sistema energético e o modo da sua transmissão, o conjunto que define e integra o circuito da pólvora negra constitui um exemplar único a nível internacional, perpetuando os diversos valores técnicos e industriais fundamentais associados à 1a revolução industrial que ocorreu em Portugal.
A classificação da Fábrica de Pólvora de Vale de Milhaços reflete os seguintes critérios constantes do artigo 17.° da Lei n.° 107/2001, de 8 de setembro: o caráter matricial do bem, o seu valor estético, técnico e material intrínseco, a sua conceção arquitetónica e urbanística e a sua extensão e o que nela se reflete do ponto de vista da memória coletiva.
A zona especial de proteção (ZEP) tem em consideração a necessidade de preservar as características morfológicas e a imagem histórica e funcional do local, embora permitindo o natural processo de revitalização urbana e social de algumas das áreas envolventes.
Foram cumpridos os procedimentos de audição dos interessados, previstos no artigo 27.° da Lei n.° 107/2001, de 8 de setembro, de acordo com o disposto nos artigos 100.° e seguintes do Código do Procedimento Administrativo. Assim:
Sob proposta dos serviços competentes, ao abrigo do disposto nos artigos 15.°, 18.°, n.° 1, 28.°, n.° 2, e 43.° da Lei n.° 107/2001, de 8 de setembro, e no uso das competências conferidas pelo n.° 11 do artigo 10.° do Decreto-Lei n.° 86-A/2011, de 12 de julho, manda o Governo, pelo Secretário de Estado da Cultura, o seguinte:
Artigo 1.°
Classificação
É classificada como monumento de interesse público a Fábrica da Pólvora de Vale de Milhaços, na Quinta da Fábrica da Pólvora, Vale de Milhaços, freguesia de Corroios, concelho do Seixal, distrito de Setúbal, conforme planta de delimitação constante do Anexo à presente portaria e que desta faz parte integrante.
Artigo 2.°
Zona especial de proteção
É fixada a zona especial de proteção do monumento referido no artigo anterior, conforme planta de delimitação constante do anexo à presente portaria e que desta faz parte integrante.
12 de dezembro de 2012.
O Secretário de Estado da Cultura,
Jorge Barreto Xavier.
ANEXO
 25302012
40536-(44) Diário da República, 2.ª série — N.º 248 — 24 de dezembro de 2012



Portaria n.º 740-CO/2012
O Alto -Forno da Siderurgia Nacional é a estrutura mais significativa do ciclo da produção de aço por via integrada no nosso país, constituindo um ex-libris deste género fabril e um testemunho notável da tentativa de modernização e autonomização da indústria portuguesa de Novecentos. Respondendo à necessidade de autossuficiência na produção de um bem então prioritário, de forma a garantir o abastecimento do mercado interno e a alimentação de um largo conjunto de indústrias contemporâneas, a construção do alto-forno do Seixal integrava-se numa linha política de realização de grandes empreendimentos económicos, implicando notável mobilização de recursos financeiros. A estrutura foi inaugurada em 1961, no início de uma das décadas mais prósperas do nosso século XX, em pleno período de modernidade industrial, representando um fator-chave do desenvolvimento e um ponto de referência na capacidade de organização empresarial nacional.
Este imenso estaleiro siderúrgico, detentor de uma verdadeira escala urbana, foi edificado numa área natural junto do estuário do Tejo, na ampla língua de areia onde se situava a antiga Quinta da Palmeira e o seu moinho de maré, na vizinhança do porto de Lisboa, implantação que facilitava a entrada de matérias -primas e o rápido escoamento do produto, feito através de um cais apto a receber navios entre 15 e 20 mil toneladas e servido por caminho de ferro.
O complexo do Alto -Forno da Siderurgia Nacional é composto pelo alto-forno propriamente dito, pela sala de comando, pelos cowpers ou regeneradores de calor, pelo sistema de limpeza de poeiras (pote de poeiras e ciclones), pelos sistemas de preparação e movimentação de matérias -primas, incluindo a rampa dos skips e os silos de armazenamento, e pela unidade de despoeiramento secundário do gás. Em termos arquitetónicos, o alto -forno é a máxima expressão de um formalismo exclusivamente utilitário, evidente na sua dimensão monumental e na sua sintaxe plástica, que organiza uma série de soluções construtivas e estéticas subordinadas à funcionalidade e às necessidades produtivas. Constitui um edifício por si só, integrando os grandes volumes em ferro dos depósitos e tubagens que laboravam ao ar livre, e apresentando -se como um modelo tecnológico avançado e um dos últimos representantes dos primitivos altos-fornos da Revolução Industrial. Esta estrutura organizava o processo siderúrgico a montante (operações para o tratamento das diferentes matérias primas) e a jusante (fabricação dos diferentes produtos), representando simultaneamente o momento da fabricação da gusa e a estrutura mais carismática do recinto produtivo.
Embora tendo entrado numa fase de recessão que culminou, em 2001, no seu encerramento, e apesar do consequente desmantelamento de algumas áreas limítrofes e até de algumas componentes do conjunto nuclear, o Alto-Forno da Siderurgia Nacional destaca -se pelo caráter único no país, constituindo a única estrutura semelhante capaz de elucidar , técnica e arquitetonicamente, o que foi o fabrico integrado do aço em Portugal e na Europa desde a década de 60 até aos finais do século XX. Permanece ainda como “lugar de memória”, tanto para o meio social onde se encontra implantado, onde é referência identitária fundamental, como para a compreensão global do fenómeno industrial português.
A classificação do Alto -Forno da Siderurgia Nacional reflete os critérios constantes do artigo 17.° da Lei n.° 107/2001, de 8 de setembro, relativos ao caráter matricial do bem, ao seu interesse como testemunho simbólico, ao seu interesse como testemunho notável de vivências ou factos históricos, ao seu valor estético, técnico e material intrínseco, à sua conceção arquitetónica e paisagística, à sua extensão e ao que nela se reflete do ponto de vista da memória coletiva e à sua importância do ponto de vista da investigação histórica ou científica.
A zona especial de proteção (ZEP) tem em consideração a realidade atual da envolvente do alto -forno, e a sua fixação visa salvaguardar os elementos arquitetónicos de referência e a paisagem industrial existente, sem impedir o desenvolvimento e a evolução/alteração dos usos contemporâneos, permitindo sempre uma cuidada e contínua reabilitação do local e respondendo às novas exigências ambientais e de segurança, higiene e conforto.
Foram cumpridos os procedimentos de audição dos interessados, previstos no artigo 27.° da Lei n.° 107/2001, de 8 de setembro, e nos artigos 25.° e 45.° do Decreto -Lei n.° 309/2009, de 23 de outubro, alterado pelo Decreto -Lei n.° 115/2011, de 5 de dezembro, de acordo com o disposto nos artigos 100.° e seguintes do Código do Procedimento Administrativo.
Assim:
Sob proposta dos serviços competentes, nos termos do disposto no artigo 15.°, no n.° 1 do artigo 18.°, no n.° 2 do artigo 28.° e no artigo 43.° da Lei n.° 107/2001, de 8 de setembro, conjugado com o disposto no n.° 2 do artigo 30.° e no n.° 1 do artigo 48.° do Decreto -Lei n.° 309/2009, de 23 de outubro, alterado pelo Decreto -Lei n.° 115/2011, de 5 de dezembro, e no uso das competências conferidas pelo n.° 11 do artigo 10.° do Decreto -Lei n.° 86 -A/2011,de 12 de julho, manda o Governo, pelo Secretário de Estado da Cultura, o seguinte:
Artigo 1.°
Classificação
É classificado como monumento de interesse público o Alto -Forno da Siderurgia Nacional, em Aldeia de Paio Pires, freguesia de Aldeia de Paio Pires, concelho do Seixal, distrito de Setúbal, conforme planta de delimitação constante do anexo à presente portaria e que desta faz parte integrante.
Artigo 2.°
Zona especial de proteção
É fixada a zona especial de proteção do monumento referido no artigo anterior, conforme planta de delimitação constante do anexo à presente portaria e que desta faz parte integrante.
17 de dezembro de 2012. — O Secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.
ANEXO
2592201

Diário da República, 2.ª série — N.º 248 — 24 de dezembro de 2012 40536-(65)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Quintas do Seixal (1): Quinta da Boa Hora


(Entrada da Quinta da Boa Hora numa fotografia de Arrentela em 1886) (*)

A Quinta da Boa Hora era uma antiga propriedade agrícola, situada na Arrentela, que pertenceu na segunda metade do século XVII ao Padre João Monteiro, Clérigo do Hábito de São Pedro, e originário de uma família desta freguesia, os Monteiros.

A sua designação provinha da Capela da Quinta, hoje desaparecida como a maior parte dos antigos edifícios, e que este Padre terá mandado edificar em 1668.
Tratava-se da Ermida de Nossa Senhora da Boa Hora, que teve Licença para nela se dizer missa dada por Provisão do Cabido da Sé de Lisboa em 26 de Junho de 1668 e para qual o fundador se obrigou a dar 4$000 réis todos os anos, vinculados aos rendimentos da sua quinta por uma Escritura pública feita em 20 de Junho de 1668, nas notas do Tabelião lisboeta Pedro Andrade Maciel.

O Padre Jorge Monteiro faleceu em 15 de Junho de 1696 sendo sepultada na sua ermida (direito que lhe estava reservado como fundador e padroeiro da mesma), tendo ainda obrigado as suas propriedades a uma Capela, ou seja a um Vínculo com a Obrigação de missas pela sua alma, cuja administração ficou ao encargo dos seus sucessores, conforme nos relatam as visitações e memórias paroquiais de Arrentela do século XVIII e que também nos descrevem a Ermida e o culto que existia à sua volta:
(1724)
«é administrada por Theresa de Jesus, solteira e moradora em Lisboa, tem falta de paramentos».

(1736)
«Há dentro deste Lugar da Arrentella, em huma quinta, huma Ermida dedicada a Nossa Senhora da Boa Hora: he pequena, e de abobeda, pintada pelo tecto de brutescos, e as paredes bem cobertas de azulejos de figuras, com sua tribuna de talha ainda por dourar: a Imagem da Senhora he de vulto, e está collocada em seu nicho no meyo da tribuna: he Padroeira della a senhoria da quinta chamada Teresa de Jesus, moradora em Lisboa».
(1758)
«Dentro no lugar da Arrentela há uma só Ermida da invocação de Nossa Senhora da Boa-Hora anexa a uma quinta que é Capela de uma geração chamada dos Monteiros aonde concorre muita gente em todo ano principalmente mulheres pejadas».
(Imagem de Nossa Senhora da Boa Hora da antiga Capela da Quinta da Boa Hora na Arrentela) (**)

Pela sua proximidade à sede da freguesia e ainda pelos menores estragos sofridos no terramoto de 1755, serviu a Ermida da Boa Hora de sede provisória da Freguesia de Nossa Senhora da Consolação enquanto se procediam às obras de reedificação da Igreja Matriz, conforme se regista nos Livros da Paróquia em 24 de Novembro desse mesmo ano e ainda na visitação de 25 de Junho de 1757 em que o visitador constata que: «O Santíssimo está na Ermida de Nossa Senhora da Boa Hora».

Por falta de rendimentos este vínculo de Capela foi extinto por Provisão de D. José dada em 12 de Novembro de 1771 a pedido de Pedro Correia Pires e sua irmã, administradores do mesmo.

(Casas antigas edificadas na Quinta da Boa Hora)

Em 1827 a Quinta da Boa Hora pertencia a João António Porch e tinha um rendimento anual calculado em 100$400 réis.

Em 1845 era seu proprietário o Ministro da Marinha – Jerónimo José Falcão, o qual procedeu à reedificação ou reparação da Capela, que em 6 de Outubro de 1845 é visitada e de novo benzida pelo Pároco de Arrentela – o Prior Francisco José Ferreira.

Em 1849 aparece na posse da sua mulher D. Maria Rita Falcão que em Requerimento à Câmara do Seixal, datado de 30 de Março desse ano, diz que edificou na sua Quinta da Boa Hora um prédio urbano e melhorou a servidão pública que vai do Largo da Tendeirinha para a Azinhaga da Cruzinha.


A partir da década de 1970 a área da Quinta da Boa Hora foi dando origem a um bairro e urbanização com o mesmo nome.
A maior parte dos edifícios da quinta, incluindo a Capela, foram demolidos já no século XX tendo mesmo desaparecido o subsolo da antiga Capela (onde se encontraria a sepultura do seu fundador) pois na sequência de uma operação urbanística o sítio foi destruído pelas escavações realizadas em Agosto/Setembro de 2004, sendo as terras removidas para local incerto.

RUI M. MENDES
Arrentela, 27 de Abril de 2012

(*) Revisto em 26-05-2013 – Na década de 1970 foi caseiro da Quinta da Boa Hora o Sr. Joaquim Botas e a entrada principal da Quinta (que indevidamente identificamos anteriormente com a da Quinta do Cabral), ficava sensivelmente onde hoje se situa o Centro de Reformados (ver imagem). A Capela da Quinta, já em estado de degradação, foi depois adaptada a oficina de serralharia, antes de ser demolida em 2004.
(Informação do Sr. Irlando Tavares, autor do blogue http://arrentelavelha.blogspot.pt/ e co-autor do blogue http://trasdaponte.blogspot.pt/, a quem desde já agradecemos)
(Foto da Coleção Jorge Almeida Lima, publicada em “Representações do Seixal e da Época no Olhar de Jorge de Almeida Lima. Catálogo da Exposição realizada entre 29 de Maio e 30 de Junho de 2010 na Biblioteca Municipal do Seixal)


(**) Revisto em 26-05-2013 – Imagem em madeira policromada da Senhora da Boa-Hora (Séc. XVII), com origem na Capela da Quinta da Boa-Hora – Arrentela, oferta da família proprietária da quinta através do Padre David Pinho, atualmente na Igreja Paroquial de Fernão Ferro, edificada em 1970.
(Cf. http://www.fernaoferro.pt/upload/pdf/patrimonio_historico.pdf)


Fontes:
Rui Mendes, «Património Religioso de Almada e Seixal: Ensaio sobre a sua história no séc. XVIII», Anais de Almada, n.º 11-12 (2008-2009), pp. 67-138.
(1668) AHPL, Ms. 291: Lv. 13 do Registo Geral da Câmara Eclesiástica, f. 233;
(1696) ADS, Arrentela, Óbitos, Lv. 5, f. 42;
(1724) ACMS, Irmandade do Santíssimo Sacramento de Arrentela, Livro de Visitações de Arrentela;
(1755) ADS, Arrentela, Casamento, Lv.3, f.31;
(1757) TT, Confrarias, Irmandades e Mordomias –  Livro de Visitações de Arrentela (MIII N.º 2);
(1771) TT-CHR, D. José – Extinção de Capelas, Liv. 10, fól. 63v
(1827) TT, Impostos, Lv. 318: Lançamento de Décimas de 1827, f. 35
(1845) AHPL, SR.13.05: Correspondência da Vigararia de Almada;
(1849) ACMS, C/A/04/Cx 001
(2004) Carta do Património do Seixal, CPS.00076.

AHPL – Arquivo Histórico do Patriarcado de Lisboa
ADS – Arquivo Distrital de Setúbal
ACMS – Arquivo da Câmara Municipal do Seixal
TT – Torre do Tombo

CHR – Chancelaria Régia

quinta-feira, 29 de março de 2012

Lista das Igrejas e Capelas desaparecidas do Concelho do Seixal (33)


SEIXAL (4)
Capela de Nossa Senhora das Dores (Estabelecimento da Azinheira)

Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem (Quinta da Trindade)

Capela de São Jerónimo (Quinta do Bravo)

Capela de Nossa Senhora do Rosário, anteriormente de Nossa Senhora da Conceição (Ermida Velha)

ARRENTELA (11)
Capela de Nossa Senhora da Boa Hora (Quinta da Boa Hora)

Capela de Nossa Senhora da Ajuda (Quinta das Judias ?)

Capela de São Lourenço (Quinta da Lagoa Seca)

Capela de Santa Ana (Quinta Nova do Inglês ou do Rio Judeu)

Capela de Nossa Senhora das Dores (Quinta da Prata)

Capela de Santo António (Quinta de Vale de Carros)

Capela de Nossa Senhora da Madre de Deus (Quinta Grande)

Capela de Nossa Senhora do Pópulo (Quinta dos Paulistas)

Capela de São Diogo (Quinta do Descanso)

Capela de Nossa Senhora da Soledade (Quinta da Casa de Pau ou de Nossa Senhora da Soledade)

Capela de Santo António Entre as Vinhas (Vale de Carros)

ALDEIA DE PAIO PIRES (6)
Capela de Nossa Senhora da Oliveira (?)

Capela de São Jerónimo (Quinta da Palmeira / Siderurgia Nacional)

Capela de Santa Ana (Quinta Nova do Cabo da Linha)

Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso (Quinta de Cucena)

Capela de Nossa Senhora da Conceição (Quinta da Galega)

Capela de Jesus, Maria e José (Moinho e Quinta do Zemoto)

AMORA (6)
Capela (Quinta do Semeão)

Capela do Senhor do Bonfim (Foros de Amora) ?

Capela de Nossa Senhora da Piedade (Quinta do Conde de Portalegre ou do Monteiro Mór)

Capela de Nossa Senhora da Penha de França (Quinta da Barroca)

Capela de Nossa Senhora da Salvação (Quinta de Cheira Ventos / Paço do Infante)

Capela de São João Baptista (Quinta dos Lobatos / Paço dos Lobatos)

CORROIOS (6)
Capela de São Pedro (Quinta de São Pedro / Marialva)

Capela de Santa Marta (Santa Marta)

Capela de Nossa Senhora do Carmo (Quinta do Carmo / Brasileiro)

Capela de Santo António (Quinta do Rouxinol)

Capela da Divina Providência (Quinta da Bomba / Alfeite)

Capela de Nossa Senhora da Conceição (Quinta da Vargieira) [revisto em 22-4-2014]

segunda-feira, 12 de março de 2012

O Seixal no «Portugal Antigo e Moderno» de Pinho Leal (1880)



Fonte: Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal, Pedro Augusto Ferreira, Portugal Antigo e Moderno […], Volume 9, Lisboa : Mattos Moreira, 1880, pp. 76-81


[p. 76]
«SEIXAL – villa da Extremadura (ao S. do Tejo) cabeça do concelho do seu nome, na comarca d'Almada, 17 kilometros ao S. de Lisboa, 600 fogos. Em 1768, tinha 239.
Orago: Nossa Senhora da Conceição. Patriarchado e districto administrativo de Lisboa. O povo apresentava o cura, que tinha réis 150$000.
O concelho é formado pelas seguintes 4 freguesias de Aldeia de Payo Pires, Amora e Corroios, Arrentella, e Seixal; todas com 1:560 fogos e no patriarchado.
O Seixal pertencia á freguezia de Arrentella, d'onde foi desmembrado para formar parochia independente, em 23 de junho de 1734, como adiante mais circumstanciadamente se dirá.
Este concelho está na margem esquerda do Tejo, e a villa do Seixal, junto á praia, fazendo o rio aqui uma enseada, a qual, bifurcando-se, vae com uma das bifurcações para S.E., até se encontrar com as águas do rio Judeu, e com a outra, dirigida para N.O., banha a freguezia da Amora, e finda em Corroios.


Tem duas ruas principaes, de forma semicircular, e algumas pequenas travessas e becos, com trez pequenos largos.
Não tem edifícios notáveis, pois quasí todos são acanhados, e muitos d’elles insalubres.
Tem trez fabricas – uma de productos [p. 77] chimicos, de Padrel & C.ª [1]
 – outra de sabão – e outra de sóla antiga, e notável pelos seos optimos productos. 
[2]
A maior parte dos habitantes do Seixal são pescadores do alto (de fóra da barra); tem alguns lavradores, e muito poucos artistas.
Dous kilometros ao S. E. da villa, e ao longo da praia, em uma encosta está a grande povoação de Arrentella, onde reside a maior parte dos habitantes da freguezia.
A 110 metros ao S. O. d'Arrentella, está  o logarejo da Torre da Marinha, e nas suas faldas está a magnifica fábrica vulgarmente chamada da Arrentella. (Vide esta palavra.)
Antigamente havia por aqui muitas e formosas quintas de fidalgos, e boas fazendas de diversos mosteiros.


No caminho do Seixal para a Torre da Marinha, estão - a quinta de Paulo Jorge, onde é a fábrica de productos chimicos - logo adiante, a do Outeiro do sr. João Coelho d'Abreu - em seguida, a do Valle de Grou, ou da Fidalga, do sr. Manoel da Gama - a das Cavaquinhas - e a do Cabral, que finda mesmo no logar da Arrentella.
D'aqui até à Torre da Marinha, há várias pequenas propriedades, de diversos donos. Ao S. do Seixal e da Arrentella há differentes quintas e casaes.
A freguezia da Arrentella, ainda se estende para S. E. uns 5 kilómetros, tudo pinhal, que foi dos frades Jerónimos de Belém, e hoje é dos herdeiros de Abraham WheeIhouse. [3]
Ao E. do Seixal, está a quinta de D. Maria, onde está a fábrica de sola já mencionada - em seguida, a da Trindade, e ultimamente uma ponta de terra, que entra pelas águas do Tejo, e forma o chamado Rio de Coina, onde estão dous grandes armazens do Estado, e na praia contígua muita madeira soterrada, para construções navaes. Chamasse a este lugar - Azinheira.
Voltando d'aqui para o S., segue o rio de Coina ainda 6 kilómetros, e nas suas margens há o seguinte - parte da mencionada quinta da Trindade - quinta dos Paulistas - duas azenhas (d'agua salgada) com 14 pedras, para moagem de trigo - quinta do Alamo - quinta da Madre de Deus, com uma azenha de oito pedras - quinta do Descanso – a dos Loureiros – a da Ponte – a do Portinho – a de D. Maria (Paio Pires) - a das Canoas – a do Leilão - a do Lima – a da Palmeira - a do Brejo (em Cucêna) – a do Cabo da Linha - a Quinta Nova, com um lagar d’azeite - segue-se um pinhal, que finda junto á azenha chamada do José Moto, e onde por este lado termia o concelho.


Quasi todas estas quintas nada teem de notável, senão a extrema deterioração de algumas; e o pouco ou nenhum lucro de todas.
A freguezia da Aldeia de Paio Pires, está assente em uma pequena eminência, lançada de E. a O. Tem uma única rua tortuosa, mas os prédius são, pela maior parte, bons. É n'esta aldeia onde habita a maior parte das famílias da freguezia, o resto está espalhado por differentes quintas e casaes. (Vide Aldeia de Paio Pires).
A freguezia da Amóra, está fronteira á da Arrentella, da qual está separada, em parte, pela enseada do Tejo, e em parte, por um regato, que é o já referido Rio Judeu. Tem várias quintas, sendo a única digna de menção a da Amora, que já fica descripta em Amora e Corroios. É hoje do sr. infante D. Augusto, que a comprou aos herdeiros da fallecida infanta D. Isabel Maria, filha de D. João VI, em setembro de 1877. (Vide Amora e Corroios.)

O concelho do Seixal, é limitado, ao N. e N. O. pelo d'Almada - ao O. e S. O. pelo de Cezimbra - ao S. pelo d’Azeitão (hoje Setúbal) - e ao E. pelo Tejo.
O seu terreno é bastante accidentado, mas em geral muito fértil em pão, vinho, fructas, hortaliças e legumes. O vinho d'estas terras é óptimo para exportação, e a sua laranja é da melhor que vae para Inglaterra.
Antes de 1851, produzia este concelho 3:000 pipas de vinho, mas o oidium e outras moléstias, reduziram a colheita a 510 pipas. O termo médio das outras producções, é - trigo, 5:000 alqueires - milho. 31:500 – centeio, 2:000 - cevada, 1:000 - feijão, [p. 78] 7:500 - fava, 30 - grão de bico, 110 - laranja (só a exportada para a Inglaterra) 1:800 milheiros - limão, 4 milheiros – lan, 170 kilogrammas - mel, 150 ditos - cêra, 20.- Os pinhaes que cercam todas as quatro freguezias do concelho, dão um grande rendimento em madeira e lenha.
As aguas são, na sua máxima parte, de excellente qualidade, menos na aldeia de Paio Pires que é salobra e só serve para lavagens ou régas: a agua potável, vão buscal-a a quintas particulares. Na Amora, há uma óptima agua, que rebenta de abundante e perenne manancial, mesmo junto á praia mas só se pode tirar no baixa-mar, porque, quando a maré está em meio, fica a nascente coberta.


A salubridade do concelho, na maior parte do anno, é regular; mas desde julho até novembro, apparecem as febres intermitentes e remitentes de vários typos e géneros, que affligem as povoações próximas aos arrozaes, que, desde 1850 se tem feito em larga escala, nos concelhos próximos. Também concorre para estas moléstias, a falta de limpeza das vallas, nos brejos.
Segundo a tradição, a origem da villa do Seixal, é a seguinte - Vendo pessoas competentes, que o sitio era asado para construções navais em grande escala, e que estava em fácil communicação com os operários da fabrica da Ribeira das Naus, que então estava estabelecida a E., para o lado da villa de Coina, fundaram aqui alguns estabelecimentos, dependentes do arsenal da marinha, e pouco a pouco, os mestre s e operários d’elle, aqui foram construindo casas de habitação.
Diz-se que no princípio, os moradores do Seixal, pagavam os dízimos ao infante D. António, commendador d'Almada, e que depois, esta commenda passou a ser do grande condestável, D. Nuno Alvares Pereira, por mercê de D. João I - O Condestável deu depois isto aos religiosos carmelitas de Lisboa, quando n'esta cidade lhes construiu a egreja e mosteiro.
Ainda há á entrada do cemitério publico, uma inscripção - que esteve na extremidade de E. da povoação - gravada quando o condestável era donatário do Seixal.


Consta que, visitando o rei D. Manoel esta povoação, quando foi ver a Coina a Ribeira das Naus, mandou que se chamasse Villa Nova do Seixal, e que desde então é que tem a cathegoria de villa. D’isto existia ainda há poucos annos uma inscripção, gravada em uma pedra sobre a verga de uma porta, na rua do Paço. Esta pedra, serve de pilar de uma chaminé, das casas da sr. José dos Anjos, no largo do Estaleiro.
Pelos annos de 1500, se construiu uma ermida, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Passados annos, com o crescimento da população, e sendo incommodo estarem ligados á parochia da Arrentella, cuidaram os do Seixal de construir um templo espaçoso, que de futuro podesse servir de egreja matriz, e pôr provisão do 1.º Patriarcha D. Thomaz d' Almeida, de 29 de março de 1726, se alcançou licença para esta edificação, sendo a primeira pedra lançada pelo parocho d’Arrentella, em 22 de abril do mesmo anno.
Todo o povo do Seixal, sem distincção de cathegoria, sexo nem edade, trabalhou n'esta construcção, e os que eram ricos, alem das grandes esmolas que deram, se pozeram á frente dos operários, trabalhando com elles; distinguindo-se José Bravo [4]
, que hypothecou todos os seus haveres, até ao completo pagamento de todas as despesas da obra. Os homens do mar, fintaram-se voluntariamente, na terça parte de todos os seus lucros. [5]

(Pormenor do portal da igreja do Seixal)

A ceremónia da abertura do novo templo, teve lugar em 25 de dezembro de 1728, com grande solemnidade.
N’esta época, já a povoação do Seixal constava 260 fogos.
Trataram depois do processo da desmembração e independência, da freguezia da Arrentella, o que soffreu grande opposição por parte do parocho desta freguezia, mas que finalmente, foi ordenada, por provisão do cardeal patriarcha, datada de 23 de junho de 1734: sujeitando-se o povo da nova freguesia, á sustentação da fábrica da egreja, e ao pagamento da congrua do párocho. [p. 79]
Diz a referida provisão:
“Ficam os moradores do Seixal obrigados a dar a congrua subsistencia do novo parocho e seus successores, a dar-lhe casas para morar, e cada lavrador que lavrar vinho, ou pouco ou muito, lhe dará dous potes de seis canadas de vinho, à bica do lagar, que serão hoje cincoenta os que lavram vinho, e os que de novo o lavrarem, darão os mesmos dous potes, pelo tempo adiante: e todos os mais freguezes que não lavrarem vinho, lha darão um vintém, pela desobriga, no rol dos confessados, e lhe darão mais, pela paschoa, seis mil e quatrocentos réis, para o barrete pagos pela fábrica da egreja, com todas as mais offertas e benesses que lhe render o pé d’altar, conforme o costume da freguesia antiga. E que, para a fábrica da egreja, daria cada um dos que lavrassem vinho, dous potes, na forma acima declarada, e oito vinténs cada fogo, na forma que pagavam á egreja d'Arrentella”.


O primeiro parocho d'esta freguesia, escolhido pelo povo, foi o padre Manoel Simões d'Estrella, da villa do Pombalinho, bispado de Coimbra, que tomou posse, em 27 de julho do mesmo anno de 1734, e em seguida, a 27 de agosto, se celebrou com magestosa pompa, a instalação religiosa da parochia, ordenando para isso uma procissão que sahiu da ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem - propriedade dos religiosos trinos - qual ermida ainda existe na casa e quinta que hoje é do sr. Francisco de Azevedo e Sá.
A confraria do Santíssimo, que logo se instituiu, desejando adquirir as graças e indulgências de que gosa a archiconfraria da real parochia de S. Julião, de Lisboa, sollicitou patente de aggregação, que a dita archi-confraria lhe concedeu, por accordam de 24 de abril de 1755. [6]
Alem d'esta confraria, instituiram-se as das Almas, S. Pedro [7]
, e Senhor dos Mareantes, cada uma com seu capellão.


O terramoto do 1.º de novembro de 1755, assolou muito esta freguezia, e entre os prédios que arruinou, se incluiu a egreja matriz, ficando sepultadas sob as suas ruínas, muitas das pessoas que o tinham ajudado a construir com tanta devoção e alegria. As inundações que se seguiram ao terramoto, pozeram em fuga todos os habitantes da villa, que procuraram abrigo, ao S. da parochia, no sitio chamado Barrocas do Conde Villa Nova.
Passados alguns dias, e as maiores impressões de terror, desceram á povoação, para enterrar os mortos, cuidar do reparo de suas casas e reedificação da egreja; e novamente a ermida dos frades trinos recebeu o sacrário com o Santíssimo, que ahi foi conduzido em procissão.
Tratando de reedificar a primitiva ermida (por ser obra de menos despeza) andaram com tanta solicitude, que, com a despeza de 851$765 réis a concluíram, a ponto de já alli se fazerem os officios da Semana Santa, em 1756. [8]
Desde então, decidiram festejar annualmente, no 1.º de novembro, Nossa Senhora das Dores; o que fizeram alguns annos, substituindo depois a festa, pela do Senhor dos Mareantes.
Para as obras da ermida, não só os pescadores se obrigaram a dar a quarta parte dos seus lucros, mas todos se empenharam zelosamente, mulctando até os divertimentos públicos. (Só o mealheiro do jogo da bolla, produziu a quantia de 47$000 réis!) A reconstrução da egreja matriz, foi mais dispendiosa e demorada, e se concluiu em 1762, celebrando-se a sua abertura ao culto divino, em 21 de fevereiro d'esse anno, com grande esplendor.


A torre dos sinos, só se concluiu em 1776, collocando-lhe logo trez sinos, e um relógio, que foi feito por Paulo de Franca, e custou 230$000 réis.

(Relógio da Igreja do Seixal)

Como o anno de 1784 fosse propício aos pescadores, pela grande abundância de pescaria que então houve, resolveu esta corporação, adquirir uma imagem da padroeira, de tamanho proporcionado ao templo, e ajustaram em Lisboa com o esculptor Nicolau Pinto, o fazer-lhes uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, de madeira, de sete palmos de altura, fora as nuvens, os saraphins e peanha por 57$600 réis; importando [p. 80] a encarnação e pintura, em 43$200 réis, e que foi feita por José António de Carvalho; vindo a custar esta imagem, depois de prompta, 100$800 réis, ou 21 moedas d’ouro. Compraram-lhe também ama coroa de prata, que custou 121$650 réis. Está esta formosa imagem, no altar mór, sobre a banqueta, e debaixo de um rico docel, de talha dourada.
A imagem antiga, da padroeira, está collocada no altar lateral, do lado do Evangelho, e é a que vae nas procissões.


A imagem do Senhor dos Mareantes, é muito antiga, e consta que fui dada por um dos ascendentes do sr. António da Gama Lobo Sallema, que a tinha em um oratório, da sua quinta, no districto d'esta freguesia. O Senhor dos Mareantes, já tinha confraria em 1745, pois o seu compromisso foi approvado, por provisão de 6 de agosto, de esse anno. [9]
Até 1833, enterravam-se os defuntos, na egreja parochial, e desde então, por causa do colera-morbus se enterraram em um chão, ao E. da quinta denominada de Paulo Jorge. [10]
Depois d'esta epidemia, é que a camara adquiria o terreno do actual cemitério, que fica a E. da villa, e para o qual se comprou uma casa com seu quintal, acrescentando-se depois uma porção de terreno, que foi generosamente offerecido, pelo sr. António Ferreira, avô do sr. José Ferreira de Brito.


Em 1856, foi a egreja matriz novamente reparada, com a maior perfeição, e pode rivalisar com os melhores templos de Lisboa, tanto na primorosa talha, dourada a ouro fino, como na perfeição das santas imagens, e riqueza dos paramentos e alfaias. Esta reparação, custou 11:000$000 réis, gastando n'ella, do seu bolso, o referido sr. José Ferreira de Brito, 6:000$000 réis - e réis, 2:300$000, offerecidos pelo chefe dos pescadores.
Foi por esta occasião que se adquiriram os actuaes sinos (nove) que custaram réis 717$000, depois de descontado o peso dos velhos.

(Torre e Sinos da Igreja do Seixal)

Para transmittir à posteridade, se gradou em uma lapide, collocada á entrada do templo, uma inscripção, com os nome dos fiéis que mais concorreram para esta reedificação. que foram os srs. Dr. Manoel Teixeira de Sousa - José Ferreira de Brito - João Baptista dos Santos - e Thomaz Duarte.
Depois d'estes bemfeitores, todos os mais parochianos se esmeraram á porfia, cada um segundo as suas posses, ou devoção, para que esta obra fosse, como é, de grande sumptuosidade.


Em 1870, se adquiriu uma imagem do Senhor dos Passos, do tamanho natural, e de primorosa esculptura, feita por Francisco de Gomes, e tal e qual como a formosa imagem que existe na capellinha do mosteiro de Santo António, de Lisboa - hoje asylo da Mendicidade.
Foi feita á custa de esmolas, pedidas de porta em porta, e que produziram a somma de 250$000 réis, incluindo 63$000 réis dos pilotos da barra, e 18$000 réis, do mealheiro dos botes de pesca.
A imagem e seus pertences, importou em mais de 300$000 réis, sendo para isso augmentada a receita, com a avultada esmola que deu o sr. Manoel Ferreira Simões.
Tem esta villa, estação telegraphica, de 1.ª classe, aberta ao serviço publico, em 28 de setembro de 1878. Pertence á 9.ª secção telegraphica (Évora).
Este melhoramento, foi alcançado pelos esfforço do deputado d'aquelle anno, de 1878, o sr. Jayme Arthur da Costa Pinto. A câmara municipal forneceu a casa, e a fábrica da Arrentella, a mobília.


Durante os 146 annos da sua existência como parochia independente, tem tido o Seixal os seguintes Parochos
1.º Manoel Simões d'Estrella, do bispado de Coimbra desde 1734 até 1759.
2.º João de Figueiredo e Silva, algarvio, desde 1759 até 1766.
3.º Miguel Bravo Reymão, natural do Seixal, desde 1766 até 1799. [11]
[p. 81]
4.º Francisco Gomes Vieira, natural do Seixal, desde 1799 até 1803.
5.º Joio Heliodoro Muscate, desde 1803 até 1804.
6.º Pedro António Gerardo, desde 1804 até 1811.
7.º António de Fontoura Carneiro, natural do Seixal, desde 1812 até 1815.
8.º António Innocêncio dos Santos e Paes, desde 1815 até 1819.
9.º José Joaquim Alves, natural do Seixal, desde 1819 até 1825. 
10.º António do Espírito Santo, desde 1825 até 1831.
11.º José Joaquim Alves (2.ª vez), natural do Seixal, desde 1831 até 1845.
12.º José Vaz Martins d' Almeida, desde 1845 até 1846.
13.º José Joaquim Alves, natural do Seixal (3.ª vez), desde 1846 até 1860.
14.º António Maria Pessoa, natural de Lisboa, desde 1860 até 1870.
15.º José Maria de Barros Lobo, natural de Braga, desde 1870 até 1872.
16.º Francisco Rodrigues Neiva, natural de Braga, desde 1872 até 1877.
17.º Luiz Alves Gomes Freire, natural de Coimbra. desde 1877 até 1878. [a]
18.º José Baptista Pereira, natural de Faro, no Algarve, desde 1879. É o actual [b].


Ao rev. António Maria Pessoa, 14.º prior do Seixal, e que de lá foi para prior de S. José de Lisboa, devo grande parte d’estas informações, que me mandou para Villa do Conde, em 7 de março de 1879. Mal diria este virtuoso sacerdote que poucas semanas depois falleceria, na rua do Gorreão, n.º 38, ainda na edade florente de quarenta e tantos annos.
Foi alguns mezes seu parochiano, e pude então apreciar as bellas qualidades que o adornavam. Morreu pobre, porque dava tudo aos pobres. A sua morte causou geral sentimento em toda a freguezia de S. José, e a todas as pessoas que o conheciam.
Emquanto os do Seixal pertenciam á freguezia da Arrentella, tinham um capellão para Ihes dizer missa aos domingos e dias sanctificados, na ermida de Nossa Senhora da Conceição, a cuja imagem faziam uma pomposa solemnidade, no dia próprio (8 de dezembro).

NOTAS ORIGINAIS:

[a] Foi transferido para a freguezia d’Amora, onde é actual párocho collado.
[b] O sr. José Baptista Pereira - que é ainda muito novo é muito instruído, affavel e exemplarissimo, ja como sacerdote, já como homem, já como filho e irmão extremoso. Tendo sido prior encommendado em S. Simão d’Azeitão (Villa Fresca d'Azeitão) e depois na freguezia da Amora. Fui apresentado n’esta egreja, a 27 de março de 1879 (por concurso synodal) coIlando-se a 8 de junho, e tomando posse no dia 10 d'este mez, e tudo no referido anno de 1879.


NOTAS ADICIONAIS
[1] Quinta da Bela Vista / Franceses, depois Fábrica Mundet.


[2] Quinta de Dona Maria, depois Fábrica Wicander.


[3] Abraham Wheelhouse adquiriu a Quinta da Palmeira, que fora integrada na Fazenda Pública em 1834, a qual passou depois para seu genro, José Joaquim de Almeida Lima (originário da Bahía, Brasil, e naturalizado português), casado com a sua filha Georgina Henriqueta Oom Wheelhouse, e depois destes para os seus descentes da família Almeida Lima.


[4] José Bravo, Feitor das Matas Reais, era um dos habitantes mais importantes do lugar do Seixal, e em 1742, na sua Habilitação para Familiar do Santo Ofício, duas testemunhas afirmam, uma que ele «vive de sua fazenda que lhe parece ter mais de 15:000 cruzados e sabe ler e escrever e digno de todo o emprego», e outra que é «pessoa de bom procedimento vida e costumes e com bom tratamento», dizem que é dos «homens mais ricos que tem estes contornos, sabe ler e escrever».
Era filho de Manuel Bravo, que também foi Feitor das Matas Reais e antes tinha sido Mestre da Ribeira das Naus, e pai de Miguel Bravo Reimão, 3.º pároco do Seixal.
O seu irmão, Luís Bravo, Carpinteiro do Mar, foi pai de José Bravo, Escudeiro e Cavaleiro Fidalgo da Casa Real, que em 1757 comprou uma fazenda no sítio da Favaqueira onde edificou as casas que mais tarde ficaram conhecidas pela Quinta do Bravo, e de João Pereira Bravo, avô de Ângelo Joaquim Bravo, que por Despacho de 9 de Março de 1837 foi nomeado, com 31 anos, o 1.º Administrador do Concelho Seixal, o qual fora criado por D. Maria II em 30 de Novembro de 1836. 


[5] A obra da nova igreja foi entregue ao Mestre de Obras e Pedreiro Manuel Antunes, de Lisboa, por um contrato feito em 25 de Setembro de 1726, com o Capitão Brás de Oliveira, e outros devotos do lugar do Seixal (ADS-CNA, Cx. 4397, L.076-I, fól. 37f – cit. Rui Mendes, «Património Religioso de Almada e Seixal: Ensaio sobre a sua história no século XVIII». Anais de Almada, 11-12 (2008-2009), 2010, pp. 84). Este Capitão Brás de Oliveira, morador em Lisboa, tinha uma quinta no Seixal com sua mulher D. Maria Tomásia, a Quinta de Dona Maria, e encontra-se sepultado à entrada da Igreja do Seixal conforme documenta uma lápide sepulcral de 1735.


[6] A Irmandade do SS.º Sacramento, que sucedeu à Confraria de N.ª Sr.ª da Conceição, teve o seu Compromisso aprovado por Provisão Patriarcal de 25 de Maio de 1742 (AHPL, Ms. 327, fól. 250 – cit. Rui Mendes, id., p. 74).
A esta Irmandade foi concedida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa a faculdade de apresentar anualmente o Cura da Igreja do Seixal, sendo a 1.ª carta de apresentação datada de 2 de Junho de 1737 e assinada por José da Silva Sousa (Escrivão),  Cristóvão Gonçalves (Procurador) e o já acima referido José Bravo (Tesoureiro) (TT-CEL, Mç. 1764). (*)

[7] A Irmandade de S. Pedro e a Irmandade das Almas do Seixal foram estabelecidas por Provisões Patriarcais de 3 de Dezembro e 24 de Novembro de 1735, e os respectivos compromissos aprovados por Provisões de 30 e 29 de Julho de 1737, respectivamente (AHPL, Ms. 328, fóls. 271 e 334 – cit. Rui Mendes, id., p. 74). Estavam ambas sedeadas na Capela de S. Pedro e Almas erigida na Igreja do Seixal por Provisão de 20 de Janeiro de 1736 (AHPL, Ms. 328, fól. 273 – cit. Rui Mendes, id., p. 99, 132).

[8] A antiga Ermida de Nossa Senhora da Conceição, situada na Praça da República, que passou a ser conhecida depois do terramoto como Ermida de Nossa Senhora do Rosário, foi demolida já no século XX.

[9] O Altar do Sr. dos Mareantes foi erigido na Igreja do Seixal por Provisão Patriarcal de 17 de Maio de 1735 (AHPL, Ms. 328, fól. 242 – cit. Rui Mendes, id., p. 99, 132). A Confraria foi estabelecida por Provisão de 6 de Agosto de 1745 (AHPL, CN 1841, fól. 193 – cit. Rui Mendes, id., p. 74). 
No século XIX a festa do Senhor dos Mareantes realiza-se anualmente no 1.º de Novembro (TT-CEL, Mç. 3327). (*)


[10] Quinta do Bravo.


[11] Filho do já citado José Bravo, antes de ser Cura do Seixal foi Tesoureiro da Igreja, e depois da sua nomeação como Cura foi colado com o título de Reitor a partir de Maio de 1771 pelos Irmãos do Santíssimo Sacramento da Freguesia do Seixal, que deste modo evitavam ter de o apresentar anualmente.



RUI M. MENDES
Caparica, 12 de Março de 2012


Revisões:
(*) 13 de Março de 2012. 

terça-feira, 6 de março de 2012

Lugares da Paróquia de Aldeia de Paio Pires em 1856

Publico aqui uma breve lista dos lugares da Paróquia de Aldeia de Paio Pires, em 1856, baseada no Registo das Desobrigas desse ano enviado pelo pároco à Câmara Eclesiástica de Lisboa:

Rua Direita
Lugar da Igreja
Pátio do Turqueno
Campo
Pátio do Gonçalo
Rua do Campo
Travessa do Poço
Lugar da Seixeira
Cítio das Rans (?)
Cabo da Linha
Quinta do Brejo
Quinta do Aguardenteiro
Fábrica de Lã
Panasqueira
Porto do Bogio
Bugio de Baixo
Palmeira (residia aqui o Pe. Joze Rebelo)
Moinho de Vento
Quinta do Lima
Quinta das Canas, de Joze dos Santos
Quinta da Ribeira
Quinta do Farol (?), de António Ferreira
Fazenda do Calção
Quinta da Galega
Val de Ossos
Cítio dos Bonecos
Cítio do Val de Abelha
Cítio da Troia
Cítio do Portinho
Quinta de Baicho
Descanço

Fonte: TT, Câmara Eclesiástica de Lisboa, Mç. 3265, s/n