segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Torre da Marinha (Arrentela): Igreja de N.ª Sr.ª de Fátima

O Homem Sonha, a Ideia Nasce, a Obra Acontece
O dia de 18 de Setembro de 2011 foi uma data histórica para a Comunidade da Torre da Marinha, localidade da Freguesia de Arrentela, no Concelho e Cidade do Seixal. Foi inaugurada e dedicada a nova igreja da localidade com o título de «Igreja de Nossa Senhora de Fátima da Torre da Marinha» e que irá passar a funcionar também como Centro Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Consolação de Arrentela, paróquia e freguesia de que esta localidade faz parte.

(Igreja de N.ª Sr.ª de Fátima da Torre da Marinha)

Obra que nasceu do sonho de um homem, o Padre David Pinho Esteves, que tem estado à frente dos destinos da paróquia de Arrentela desde os anos 70, a nova Igreja é a concretização de um projecto que começou a tomar os seus primeiros passos à quase duas décadas, quando se formou na localidade da Torre da Marinha uma Comunidade Católica sob a protecção de «Santa Ana» padroeira de uma velha capela particular do século XVIII que existiu na antiga «Quinta Nova» [1] propriedade agrícola já desaparecida (hoje ocupada parcialmente pelo Centro Comercial “Rio Sul” junto à Estação do Fogueteiro).

Segundo nos relata a Comissão instaladora da Igreja da Torre da Marinha em Notas históricas da Construção da Nova Igreja da Torre da Marinha [2], a primeira nota do seu livro de actas refere-se a uma reunião em 9 de Novembro de 1991 em que estiveram presentes vários membros da comunidade, juntamente com o Pároco, Padre David Pinho Esteves.
Em 1993 já existia um projecto de arquitectura para a referida quinta.

Entretanto diversos foram os locais de culto em espaços provisórios onde se reuniam semanalmente os católicos desta localidade, entre eles:
- Instalações do Independente Futebol Clube (Torreense);
- Instalações dos Tempos Livres, junto ao Pavilhão Municipal da Torre da Marinha;

O lançamento da 1.ª pedra foi marcado para 16 de Outubro de 1994 com a presença do Sr. Bispo D. Manuel Martins, dos presidentes da Câmara e da Junta de Freguesia e representantes do Continente, em cujos terrenos se situava a referida quinta.

Dada a exiguidade do terreno encravado pelos diversos acessos quer ao Centro Comercial quer à Nova Estação do Fogueteiro, foi decido abandonar o projecto inicial e tentar a permuta dos terrenos por outros mais bem localizados, processo que durou de 1997 a 2004.

Em 18 de Agosto de 2004 iniciou-se o processo de licenciamento do novo projecto de arquitectura, da responsabilidade do Arquitecto Alberto José Marques (originário da freguesia de Arrentela), e a obtenção das licenças de construção, o que foi despachado em Maio de 2008, tendo-se formado então uma Comissão de obras, composta pelo Padre David, José Lopes da Silva, Luís Silva, Isaías Xavier dos Santos, António Aleixo e Duarte Castanheira, que passou a acompanhar todo o processo.

Em 1 de Julho de 2009 e depois de várias diligências começa a obra de construção da responsabilidade das seguintes empresas:
1ª Fase:
- Estruturas/Alvenarias/Rebocos Exteriores – “Britalar”
2ª Fase:
- Acabamentos Interiores da Capela de dia /Capela Mór /Coro Alto /Cartório e Sacristia /Salas mortuárias – “Iceblock”.
- Fiscalização:
“Negril”

Passado 1 ano da sua construção celebrou-se logo em 21 de Março de 2010, a 1.ª missa, presidida pelo Sr. Bispo de Setúbal, sendo então decidido dedicar a nova igreja a «Nossa Senhora de Fátima», primeira com este título no Concelho do Seixal [3].

Finalmente a igreja de N.ª Sr.ª de Fátima da Torre da Marinha é inaugurada e dedicada em 18 de Setembro de 2011, pelas 16h00m em cerimónia presidida pelo Sr. Bispo de Setúbal, D. Gilberto dos Reis, e pelo Pe. David acompanhado de outros padres da Diocese de Setúbal.

Nesta cerimónia, bastante concorrida, estiveram presentes além do concelebrantes, e membros da Comissão de Obras, os Presidentes da Câmara Municipal do Seixal, Sr. Alfredo Monteiro, e da Junta de Freguesia de Arrentela, D.ª Teresa Nunes, o autor do projecto, o Arq.º Alberto José Marques, outras autoridades locais, convidados e representantes das empresas de construção, e claro toda a Comunidade Católica da Torre da Marinha que preencheu na sua totalidade os lugares da Igreja.

 

Foi uma cerimónia bela e solene iniciada pelo descerramento no átrio, pelo Sr. Bispo, de uma placa em mármore evocativa da mesma, seguida pela entrega das chaves da Igreja ao Sr. Bispo, abertura da porta principal e a Entrada no Templo liderada pelo Pastor maior da Diocese seguido dos fiéis. Seguiram-se as cerimónias próprias do ritual de bênção e dedicação de novos templos católicos, incluindo a aspersão do altar e do templo, a unção do altar, a incensação do altar e do templo e a iluminação festiva.

Seguiu-se depois a celebração da Eucaristia, foco principal desta cerimónia, já no novo espaço sagrado.
Toda a cerimónia foi acompanhada de belos cantos corais e de uma excelente peça instrumental de flauta de matiz barroca, ambos favorecidos aliás pela excelente acústica do novo espaço de culto.
Por fim procedeu-se ainda à bênção do Sacrário e da Capela do Santíssimo.

Nos discursos finais além do Sr. Bispo D. Gilberto, falaram também, em nome da Comissão de Obras, o Sr. Duarte Castanheira, o Sr. Presidente da Câmara, a Sr.ª Presidente da Junta, e o Pároco, Pe. David, que transmitiu mensagens de felicitações quer do Sr. D. Manuel Martins, Bispo Emérito da Diocese de Setúbal, quer do Sr. D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, antigo Seminarista de S. Paulo de Almada.

(Igreja de N.ª Sr.ª de Fátima da Torre da Marinha)

Quanto ao edifício si trata-se de uma igreja moderna, cuja nave principal é um enorme volume elipsoidal em forma de torre e a fazer lembrar uma quilha de um navio. Os principais materiais de revestimento foram o cimento branco, o ladrilho cerâmico cor de tijolo, e o vidro, em especial nas pequenas janelas laterais, em janelões frontais virados a poente e ainda em secções do telhado, os quais introduziram no interior do templo uma luminosidade muito agradável e reconfortante.
O espaço de culto é constituído por uma ampla nave sem distinção entre a assembleia e a capela-mor, com uma altura de 4~5 pisos e com 2 conjuntos de 3 colunas apostas nas paredes laterais.

(Capela-mór)

A Capela mór contém além do altar mór, ao centro, uma cruz ao alto na parede de topo a qual não apresenta qualquer retábulo, apenas dois nichos laterais um do lado do evangelho com a imagem da padroeira «N.ª Sr.ª de Fátima» e outro do lado da epístola com a imagem de «S. José Operário», uma homenagem ao povo operário que esteve na génese e desenvolvimento desta localidade. Ambas as imagens adquiridas à empresa «Paramentaria de Fátima».

 
(Nichos de N.ª Sr.ª de Fátima e S. José Operário)

Ainda na Capela mór encontram-se do lado esquerdo a pia baptismal (sem baptistério) e o púlpito, ambos peças em mármore.

O corpo central da nave é ocupado pela assembleia que é constituída por aproximadamente 400 lugares sentados a que se juntam mais cerca de 250 lugares no coro-alto. Adjacentes à nave, do lado direito, temos ainda a Capela do Santíssimo com cerca de 50 lugares e onde se encontra o Sacrário, sem dúvida a peça de arte sacra mais interessante do novo templo, constituído por um cofre embutido na parede cuja porta apresenta o acrónimo IHS ladeado por Espigas e Cachos de Uvas, representando o Pão e o Vinho, ou seja o Corpo e o Sangue de Cristo.

(Sacrário)

Arquitectonicamente é um projecto cujo desenho exterior e a forma do remate frontal encimado pelo cruzeiro, apresenta claras reminiscências de Mario Botta (por ex.º da Catedral de Evry - França) embora aqui o cilindro seja transformado numa forma semi-elipsóide. O uso assimétrico das pequenas janelas, embora de forma muito mais modesta, recorda também «Notre Dame de Haut» de LeCorbusier obra matricial do Movimento de Renovação da Arte Religiosa do século XX. Por outro lado a utilização da simbologia marítima no desenho da igreja não é temática original, pois já fora utilizada, pelo menos em Portugal, pelo Pe. Manuel Gonçalves na Igreja de Caxinas (Vila do Conde) ou mais recentemente por Troufa Real na Igreja de S. Francisco Xavier (Lisboa), é no entanto aqui feita de uma forma muito mais subtil.



(Interior da Igreja)

O Interior do templo faz lembrar obras de referência da Arquitectura Religiosa Contemporânea Portuguesa, desde logo a luminosidade da Capela mór da Igreja do Sagrado Coração de Jesus em Lisboa, de Nuno Teotónio Pereira, ou a verticalidade da nave da Igreja de Santa Maria do Marco de Canavezes, de Siza Vieira, ou a limpidez e sobriedade da Igreja de Santo António de Portalegre, de Carrilho da Graça.

Apesar do enquadramento urbanístico não deixar respirar o desenho e cercear as suas potencialidades, é no entanto um projecto que apresenta uma proposta iconográfica única e própria que lhe dá identidade e originalidade que honra sem dúvida o património arquitectónico e histórico da freguesia e do concelho.

(Fachada poente)

Estando agora concluída a fase de construção da igreja, cujo custo total foi de cerca de 1.800.000 €, dos quais faltam ainda pagar 300.000 €, esperamos que, e apesar das dificuldades dos tempos correntes, a generosidade do povo Arrentelense se manifeste mais uma vez, e como também o fizeram os seus antepassados quando edificaram e reconstruíram após o terramoto do 1755 a bela Igreja matriz, seja agora possível pagar o que falta e colocar rapidamente mãos à obra para concluir o restante projecto!

(Fachada nascente)

RUI M. MENDES
Arrentela, 18 de Setembro de 2011

Notas:
[1] Citada pelo Pe. Manuel Vieitas de Macedo, cura de Arrentela, nas Memórias Paroquiais de 1758 como a «Ermida de Santa Ana na quinta nova chamada do Ingres que é do Bartolomeu Xavier [Baptista], Oficial dos Contos», seria contudo mais antiga pois já em 1675 se celebrou um casamento na Quinta Nova (DGARQ-ADS, Registos Paroquiais, Arrentela, Casamentos, Liv. 3, fól. 60). Em 1706 era aparece nos registos paroquiais uma «Quinta Nova do Inglês» propriedade de Guilherme e Maria Barquer (DGARQ-ADS, Registos Paroquiais, Arrentela, Óbitos, Liv. 5, fól. 142v). No século XVIII e XIX esta quinta também foi conhecida por Quinta Nova do Rio Judeu.

[2] Comissão instaladora da Igreja da Torre da Marinha, Notas históricas da Construção da Nova Igreja da Torre da Marinha
Site: https://sites.google.com/site/paroquiadearrentela/igreja-da-torre-da-marinha/comissao-instaladora-da-igreja-da-torre-da-marinha

[3] Embora já exista uma capela particular da mesma invocação, réplica da existente na Cova da Iria e edificada em 1956 pelo comerciante Paulo Augusto dos Santos, na sua Quinta no Alto do Moinho, na sequência de uma promessa feita pela saúde da sua filha.

Ver também:
História da Paróquia de Arrentela e da Torre da Marinha
O Concelho do Seixal e a Fábrica de Lanifícios de Arrentela em 1862

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